sábado, outubro 19, 2013


Estava a entrar em casa, acabada de chegar nem sei bem de onde. Por mais que puxasse pela cabeça, não sabia qual tinha sido o último sítio em que tinha estado. Andei tanto para chegar a casa, droguei-me durante todo o caminho que me esqueci de onde tínhamos vindo. Será possível? O que me importou na altura foi estar contigo. Senti-me bem, sou eu o mais transparente possível e contigo as palavras costumam sair-me com clareza, ou então é o teu especial dom de me compreenderes e me ouvires... Estavas cansada e quiseste bazar porque a tua cama já chamava por ti. Eu, como de todas as outras vezes, encontrava-me ainda cheia de vontade de viver a rua. Queria tudo menos a minha cama. O sol já tinha nascido a algumas horas, mas continuava a ser tão cedo ainda, de madrugada praticamente e tu aguentaste o máximo possível para me fazer companhia pelas nossas ruas... Entrei em casa a esforçar-me para não fazer barulho com mil merdas na cabeça. Já tinhas bazado e agora estava a falar comigo própria. Fui para a cozinha, abri o frigorífico e sentei-me no chão, a beber água gelada porque o meu corpo continuava a suar, o calor dentro de mim era intenso e começava a incomodar-me. Senti milhares de mocas a vir ao de cima e fugi para o quarto. Mas que quarto tão escuro, que casa tão sem luz! Não sei se era a minha moca a falar, mas estar dentro de casa assim não correu muito bem... Eu sabia que devia ter ficado pela rua. Comecei a tossir imenso e o meu nariz já só sabia sangrar, esqueceu-se de como respirar. Não queria que a minha mãe acordasse com aquela minha tosse e tapei a boca. Estava quase a vomitar tudo o que tinha de mau no organismo, mas não o podia fazer. Ela ia acordar e ver-me assim. Procurei mortalhas no bolso do casaco e comecei a fumar. Deitei-me, mergulhei nos meus pensamentos, adormeci. Deixem-me sonhar para ficar bem.

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